Nem das outras dez, ou vinte. Quem acha que fazer comida nos fins de semana é coisa muito séria quer uma cozinha à altura. Custe o que custar
O paulistano Eduardo Mazza, 41 anos, trabalha de segunda a sexta como diretor financeiro de uma construtora. Nos momentos de lazer, vai ao cinema, viaja ou bate bola com o filho Bruno, de 8 anos. O almoço com a família nos domingos é sagrado. Por trás dessa perfeita normalidade, Mazza alimenta um vício incontrolável, que o leva a gastar milhares de reais em questão de minutos: ele é louco por utensílios de cozinha. Em nome da compulsão, calcula já ter torrado uns 15.000 reais em vinte panelas de ferro fundido esmaltado, todas da marca francesa Le Creuset, na cor vermelho flamejante. São caçarolas, frigideiras, jarras, tigelinhas e até um elegante recipiente para fazer pratos marroquinos como cuscuz e tagine (690 reais). Com orgulho de colecionador, Mazza acomoda-os num armário com portas de vidro especialmente instalado em frente ao fogão. “É um exagero mesmo. Já tenho tudo de que preciso em matéria de panelas e talheres. Também troquei recentemente todos os pratos e tenho um jogo de doze facas fantástico, que inclui uma para desossar e outra de serra, faca para cortar tomate, filetar cebola, preparar sushi”, descreve, entusiasmado. Mazza é um exemplar típico de uma espécie em constante evolução, os chefs de fim de semana, em geral profissionais bem-sucedidos que gostam de exibir seus dotes culinários.
O fato de que o façam nos melhores equipamentos que o dinheiro pode comprar produz fenômenos que escapam à compreensão dos cozinheiros eventuais, aqueles do macarrão e da omelete, como pagar 56.000 reais por um imenso fogão da marca Viking com dois fornos, chapa, grelha e seis bocas (todas capazes de reproduzir o efeito banho-maria); 45.000 reais por uma geladeira Sub-Zero, que regula sozinha as variações de temperatura e umidade conforme a porta é aberta; 18.000 reais por uma coifa Wolf, que sobe e desce, por controle remoto; e 8.000 reais pela gaveta térmica, também da Viking, que mantém a pipoca crocante por várias horas (no muito improvável caso de a tigela não ser abatida em quinze minutos). É um mercado aquecido, em todos os sentidos do termo. “De 2006 para 2007, notamos um crescimento de 50% nas vendas”, avalia Beatriz Zwarg, gerente de marketing da americana Viking, uma espécie de Versace dos eletrodomésticos, cujo fogão mais vendido é um monumento de quase 1 metro de largura que custa 30.260 reais. O equivalente a um carro médio, mas quem consegue fazer crème brûlée sobre quatro rodas?
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