LUIZA FECAROTTA
da Revista da Folha
Um toque de alecrim e pimenta-do-reino foi o segredo de Raimundo Nonato para dar sabor à comida insossa do presídio. Vivido pelo ator baiano João Miguel, 37, o personagem protagoniza o longa “Estômago”, que teve estréia paulista na sexta, dia 11. É se dedicando aos prazeres e ofícios da cozinha que Nonato vai vencendo as agruras da vida na cidade grande.
Com simplicidade e carisma, o cearense consegue emprego em um boteco para fazer faxina, coxinhas e pastéis (com pinga na massa); vira ajudante em um restaurante italiano e, assim, aprende a selecionar os melhores ingredientes no mercado. Conquista ainda o estômago de uma prostituta por quem se apaixona e também ganha confiança (e poder) entre seus companheiros de cela.
Para marcar sua estréia, a produção do longa, dirigido por Marcos Jorge e baseado em conto de Lusa Silvestre, criou um livro de receitas virtual com pratos elaborados por blogueiros de gastronomia.
Nomes conhecidos no mundinho gourmet virtual, como Tatiana Damberg, do blog “Mixirica”, Neide Rigo, do “Come-se” e Alessander Guerra, do “Cuecas na Cozinha”, foram convidados a assistir a uma sessão especial de “Estômago” e, então, desenvolveram pratos inspirados no longa.
A única exigência era o número de receitas, limitado a duas por chef. Alessander Guerra, por exemplo, usou ingredientes que enriqueceram os pratos de Nonato, como o nhoque de batata ao alecrim com molho de gorgonzola, damasco e nozes. Fabiana Zanelati, do blog “Rainhas do Lar”, entrou na brincadeira e criou uma receita exclusivamente para a Revista, também utilizando alguns dos produtos prediletos do protagonista. O resultado é o tomate recheado à Nonato, com gorgonzola e nozes.
Correria no boteco
Baiano de família italiana, o ator João Miguel sempre carregou o desejo de conhecer os lugares por meio da comida e aceitou sem titubear o convite para ser o protagonista. “Eu tinha seis anos e meu pai disse: “Se um dia você ganhar dinheiro e tiver se sentindo duro, triste, vá no melhor restaurante e peça a comida que quiser que você vai se sentir rico””, relembra o ator.
Para encarnar Raimundo Nonato, ele fez estágios em um boteco e em um restaurante italiano em Curitiba. “Eu lavava louça, servia cerveja na correria. Também acompanhei a preparação de pratos dentro da lógica de um restaurante, onde tem silêncio, diálogo, relações, concentração. Tudo isso foi importante para criar o meu Nonato.”
Hoje, o ator olha a comida de outro jeito. Mas seu prato predileto continua o mesmo desde a infância: “É um que comi minha vida toda, em Salvador, um arroz-de-hauçá”. Receita afro-baiana que, na versão que ele gosta, vai ao forno com carne-seca, um crocante com castanha de caju, camarão-seco e amendoim com molho de dendê e um toque de leite de coco.
Este último é um dos ingredientes mágicos com que seu personagem, Raimundo Nonato, incrementa o arroz servido aos seus companheiros de cela, numa espécie de festa de Babete dos condenados.
Colaborou Giuliana Bastos
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